3dV_Qwsg
doc9HvWA

O que é

O Paisagem Sonora – Programa de Promoção da Música do Recôncavo da Bahia tem como objetivo promover a valorização da diversidade musical contemporânea a partir das tradições originárias de matrizes africanas e indígenas da música. Desenvolve iniciativas de formação, qualificação profissional e difusão, gerando conhecimento sobre a Música Popular Brasileira, de modo a contribuir para a promoção do intercâmbio entre fazedores da cultura, artistas, profissionais da música e a comunidade acadêmica da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), cujo Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (Cecult) é realizador da proposta junto à Fundação Nacional de Artes (Funarte). Em 2023, as ações culminam com a realização do V Festival Paisagem Sonora – Formação, Gestão e Difusão da Música, nos dias 20 e 21 de outubro.

 

Nessa edição, os 200 anos da independência no Brasil na Bahia e a matricialidade dos povos originários são o foco de nossa atenção, como prática e exercício de tradução. A imagem da cabocla e do caboclo são emblemas de afirmação identitária, que iluminam os agenciamentos coreografados nesse itinerário dos dois dias de Festival.

 

Há uma lenda afro-brasileira que conta que, quando se iniciou o grande flagelo da escravidão atlântica, sete Exus vieram ao Brasil para negociar a entrada de uma legião de homens e mulheres, de diversas etnias, que traziam consigo os seus assentamentos, ancestralidades e seus orixás. Tratava-se ali de uma embaixada para pedir licença à espiritualidade brasileira. Uma forma respeitosa de repensar essa nova conformação territorial e uma cosmovisão. Não por acaso a fortuna crítica da experiência sonora do Recôncavo é fruto desse encontro.

 

Do mesmo modo, do ponto de vista simbólico e material, foi com os Tupinambás, Tapuias e Aimorés que as lutas da independência da população negra e mestiça foram travadas por todo o território do Recôncavo Baiano. Nesse sentido, são os povos originários que passam a ser o símbolo da cidadania através dos caboclos e das caboclas nos desfiles cívicos.

 

Na Festa do Bembé do Mercado, por exemplo, a figura do caboclo ocupa uma tenda ao lado do barracão do Xirê. Essa atitude denota respeito aos que aqui estavam e nos orienta a pedir licença. Por essa especificidade, acreditamos que as políticas culturais e as formas de expressões artísticas produzidas à margem dos grandes centros econômicos precisam de um húmus decolonizador.

 

No Paisagem Sonora, demarcamos a contradição entre os espaços de legitimação da arte e a produção simbólica que resiste na periferia dos grandes centros. Sabemos que há um silenciamento programado pelo mercado e pelo sistema das artes. Por isso, insistimos em ancorar o nosso festival nesse território e, decerto, nas nossas diversas lutas de independência somos levados a, parafraseando Boaventura, romper as muitas violências epistêmicas impostas por um pensamento abissal.

 

Salve os caboclos de penas! Salve os boiadeiros! Salve o Caboclo Rompe Mato!

 

Danillo Barata
Curador

Pular para o conteúdo